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Lugar de mulher também é nos esportes
Para além de fãs de diva pop, as minas da Geração Z rompem estereótipos e se mostram presentes no cenário esportivo
O interesse das mulheres da geração Z pelo esporte está em alta e não se limita apenas a exercícios, roupas e lifestyle. Além de acompanhar as carreiras das divas pop, premiações musicais e fashion weeks, agora elas também acompanham campeonatos como o Brasileirão e a Champions League, as 24 corridas da Fórmula 1 e a temporada da NFL.
Uma pesquisa da empresa britânica Ernst & Young aponta que as meninas dessa geração estão mais envolvidas com competições esportivas, superando as anteriores. Esse fenômeno é visível no aumento de páginas nas redes sociais, torcidas organizadas e na presença de mulheres aspirantes a futuras jornalistas esportivas, que debatem com propriedade os temas do universo esportivo.
Mas afinal, as mulheres da geração Z, de fato, se interessam mais por esporte do que as mulheres de gerações anteriores?
Nos últimos anos, as categorias esportivas - que sempre foram vistas como um território predominantemente masculino - têm atraído cada vez mais jovens mulheres, que jogam, torcem e assistem às competições com conhecimento e entusiasmo. Um estudo do IBOPE Repucom, realizado em 24 países das Américas, Europa e Ásia, revela que 43% das mulheres demonstram interesse por esportes, comparado a 69% dos homens.
O levantamento também aponta que esse engajamento é mais forte entre pessoas mais jovens: 48% das entrevistadas com menos de 50 anos afirmam ter muito interesse no assunto, enquanto as com mais de 50, o número cai para 36%. Esse crescimento é muito impulsionado pelas redes sociais, pela mídia e, especialmente, pela maior diversidade de gênero presente entre atletas e na cobertura midiática.
As Olimpíadas de Paris são a exemplificação desse aumento, já que, pela primeira vez em 128 anos, houve equidade de gênero entre os participantes. Dos 10.500 atletas, 5.250 eram mulheres, reforçando o papel cada vez mais expressivo delas dentro do esporte. Além disso, também houve maior presença feminina na cobertura esportiva: 43% das transmissões olímpicas do Grupo Globo contaram com a participação de comentaristas, ex-atletas e narradoras. A atuação das mulheres também cresceu nos bastidores olímpicos; árbitras, técnicas e voluntárias ocuparam 50% das posições das comissões do Comitê Olímpico Internacional (COI).
O aumento da participação feminina não se limita ao campo de jogo, mas também se faz presente na audiência. Com base no balanço apresentado na matéria do GE, durante a edição das Olimpíadas de Paris, 65% a mais de mulheres acessaram conteúdos esportivos digitais, e, no canal pago SporTV, 42% do público durante as semanas olímpicas foi feminino. Isso prova que as mulheres podem, sim, estar em todas as vertentes ligadas ao universo esportivo.
O crescimento da audiência feminina no esporte vai além das Olimpíadas e grandes eventos internacionais. O fenômeno também reflete no futebol, esporte que o Brasil, tradicionalmente conhecido como o "País do Futebol", se destaca de maneira significativa. De acordo com o estudo “Marcas em campo! O futebol e a mídia dentro e fora das 4 linhas”, da Kantar Ibope, as mulheres já representam 44% da base de fãs de futebol no país.
Esse aumento de engajamento é nítido nas redes sociais e dentro e fora dos estádios, com torcidas organizadas femininas ganhando cada vez mais reconhecimento e espaço. É o caso da "União das Minas", grupo de torcedoras pertencentes à organizada do Fluminense. Uma das integrantes é Giulia Albuquerque, 22 anos, estudante de Publicidade e Propaganda e estagiária em um estúdio de beleza e em uma empresa de marketing esportivo.
Antes de se juntar às "minas", ela sentia muita falta de companhias para assistir aos jogos do Tricolor de Laranjeiras. “Foi conversando com um amigo que ele me apresentou uma antiga integrante da União das Minas. Assim, eu comecei a acompanhar as meninas e a fazer parte dos projetos e ações, e fui me apaixonando cada vez mais.”
Ao explicar e falar sobre os projetos e ações realizados, Giulia relatou uma recente conquista do grupo: “Foi há pouco tempo que fomos a primeira torcida organizada a colocar dois ônibus 100% femininos em uma caravana para Minas, reforçando ainda mais os lugares que queremos estar”.

Foto: reprodução/@uniaodasminastyf
Mas não é só no mundo do futebol que elas marcam presença. Na Fórmula 1, categoria mais famosa do automobilismo, o número de mulheres que passaram a acompanhar as corridas teve um aumento de 40% nos últimos cinco anos. Uma pesquisa realizada pela “More Than Equal”, iniciativa que trabalha na busca pela igualdade de gênero na Fórmula 1, revelou que o público feminino é em média 10 anos mais jovem que os fãs homens, e tem 70% mais chances de engajarem nas redes sociais para discutir e comentar sobre a categoria.
Esse aumento tem sido impulsionado por uma série de fatores. Entre eles, o sucesso da série “Drive to Survive”, da Netflix, que trouxe uma nova perspectiva ao proporcionar um acesso sem precedentes aos bastidores do esporte, revelando o que acontece nos boxes das equipes e criando uma aproximação com os pilotos e as personalidades presentes no paddock. Além disso, a era das redes sociais também impulsionou esse crescente interesse na geração mais nova, proporcionando um contato mais direto e acessível com o universo da Fórmula 1 através de perfis no TikTok e Instagram.
Isso tem aproximado telespectadoras e torcedoras das pistas, enquanto influenciadoras, páginas e blogs dedicados ao automobilismo, como o Blog Batom na Pista, que tem ganhado destaque ao abordar a categoria sob uma perspectiva feminina, reforçando a paixão e o conhecimento das mulheres no esporte. Isso é nítido na trajetória da estudante de jornalismo, Mel Ribeiro, CEO do Blog Batom na Pista e atual repórter e social media da Fórmula Delta.
Ao ser questionada sobre a motivação de criar um projeto feito apenas por mulheres, Mel declarou: “A ideia do BNP surgiu ainda em 2021. Mas só em 2022, e com o apoio dos meus chegados, o Batom Na Pista finalmente nasceu com o intuito de dar às mulheres a oportunidade de se inserirem nesse meio do automobilismo assim como eu tive a minha chance”.
A jornalista em formação também compartilhou a mudança que as redes trouxe para sua trajetória, e ofereceu sua visão sobre o atual cenário. “Criar conteúdo a respeito do automobilismo tem sido uma virada de chave muito importante na minha vida e carreira. Ter e criar um espaço para poder falar livremente e abertamente sobre aquilo que tanto amo tem sido surreal.”
Ao falar sobre a presença e a influência das mulheres no mundo do automobilismo, ela acredita que pequenas ações, como criar uma página ou gravar vídeos abordando as temáticas, têm um impacto significativo ao encorajar outras mulheres a se envolverem com o esporte: "Até porque, querendo ou não, são pequenas atitudes de ‘ah, vou falar sobre’, ‘vou criar uma página sobre’, que fazem a diferença e acabam encorajando umas às outras”. Além disso, ela destaca a importância de iniciativas como o BNP na construção dessa narrativa. “Ele tem sido muito isso na vida das pessoas que nos seguem, e desde que comecei no meio até aqui, a porcentagem de mulheres no automobilismo aumentou e muito. É lindo de ver", afirma Mel.
À medida que os esportes ganham destaque no cenário global, as garotas estão se consolidando como uma parte cada vez mais essencial, e não só como audiência, mas também como criadoras de conteúdo e profissionais da área. No entanto, apesar dos avanços ao longo dos anos, os desafios para garantir uma inclusão genuína no esporte ainda são significativos.
Tanto Mel Ribeiro quanto Giulia Albuquerque concordam que o preconceito, o machismo e a discriminação são barreiras constantes. "Muitas vezes somos alvo de piadas e ofensas, além da falta de apoio e reconhecimento. Não recebemos o mesmo apoio que as torcidas masculinas e enfrentamos muita dificuldade ainda para conseguir espaço," ressalta Giulia. Mel acrescenta que, embora a participação feminina tenha crescido no automobilismo, ainda há um longo caminho a ser percorrido. "Sim, as coisas mudaram muito em comparação a outras épocas, mas ainda há um extenso caminho a ser percorrido para que, de fato, haja igualdade para todos."
Há, de fato, muito a ser feito para que o ambiente esportivo se torne verdadeiramente inclusivo e acolhedor para todas, independentemente da geração, idade ou nível de envolvimento. A presença feminina no esporte já avançou significativamente e tem potencial para crescer ainda mais, demonstrando que as mulheres estão prontas para ocupar esses espaços e acabar com as barreiras.

Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser.
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